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Na hora de escrever uma redação para vestibulares como a Fuvest, o Enem ou concursos públicos, ter bons repertórios socioculturais é essencial para garantir profundidade argumentativa. E uma das fontes mais ricas e, muitas vezes, pouco exploradas pelos candidatos, é o cinema brasileiro. Filmes nacionais refletem questões sociais, culturais e políticas do país e servem para fundamentar pontos de vista em diferentes temas.

A seguir, você vai conhecer uma seleção de filmes brasileiros que são ouro como repertório para temas quentes de redação, sempre acompanhados de uma sugestão de autor ou estudioso para enriquecer ainda mais sua argumentação.

1. Trabalho análogo à escravidão e desigualdade de gênero

Que horas ela volta? (2015), de Anna Muylaert

Esse filme expõe, além das desigualdades sociais, as tensões de gênero, principalmente ao mostrar como mulheres de diferentes classes enfrentam desafios distintos. Ele serve para discutir o papel social da mulher e a violência simbólica e estrutural contra o gênero feminino, principalmente no que tange o trabalho doméstico.

Como usar na redação: ao abordar violência contra mulheres, cite como o filme retrata a opressão simbólica no cotidiano, articulando, por exemplo, que a violência de gênero ultrapassa a física e se infiltra nas estruturas sociais.

2. Racismo

AmarElo – É tudo pra ontem (2020), de Emicida

Esse documentário vai além da música e aborda o racismo estrutural, a luta por direitos civis e a valorização da cultura negra no Brasil.

Como usar na redação: ao tratar de racismo, relacione o filme com o conceito de racismo estrutural no país, destacando que o racismo não se restringe a atitudes individuais, mas se enraíza em estruturas sociais que perpetuam desigualdade.

3. Meio ambiente

Amazônia Sociedade Anônima (2020), de Estevão Ciavatta

O documentário mostra os impactos da exploração predatória na floresta e a resistência dos povos indígenas.

Como usar na redação: em um tema ambiental, o filme ilustra os efeitos da lógica capitalista sobre a Amazônia, criticando o modelo de desenvolvimento econômico baseado na exploração sem limites da natureza.  Ele ajuda a fundamentar que essa degradação é resultado de uma racionalidade econômica insustentável.

4. Holocausto

Sobral Pinto, o homem que não tinha preço (2013), de Paulo Leite Soares

Embora não trate do Holocausto diretamente, o filme dialoga com temas como perseguição, autoritarismo e violação de direitos humanos, criando pontes de comparação com genocídios e opressões.

Como usar na redação: ao relacionar perseguições no Brasil com o Holocausto, mostre  que violações de direitos surgem quando a sociedade normaliza a violência e a burocracia a serviço da opressão.

5. Fake news

O Mecanismo (2018), de José Padilha

A série dramatiza a Operação Lava Jato, trazendo reflexões sobre corrupção, mídia e manipulação de informações, um campo fértil para discutir a desinformação.

Como usar na redação: ao falar de fake news, cite o filme como exemplo da manipulação midiática na era digital, a circulação de informações falsas ameaça a democracia e molda movimentos sociais e políticos.

6. Adultização de crianças

Pixote: a lei do mais fraco (1981), de Hector Babenco

O filme retrata crianças que perdem a infância devido à violência urbana e à negligência estatal, discutindo a adultização forçada de menores em situação de vulnerabilidade.

Como usar na redação: relacione Pixote mostrando que a infância é uma construção histórica a ser preservada, e aponte como a sociedade falha ao proteger a infância, impondo responsabilidades e riscos que transformam crianças em adultos precoces.

7. Interseccionalidade

Bixa Travesty (2018), de Claudia Priscilla e Kiko Goifman

O documentário acompanha a artista Linn da Quebrada, abordando questões de gênero, raça, classe e sexualidade, um exemplo claro de interseccionalidade.

Como usar na redação: ao discutir interseccionalidade, cite o filme como exemplo da sobreposição de opressões, reforçando como múltiplas formas de opressão se entrelaçam, que problemas sociais não são entendidos de forma isolada.

Veja um exemplo de Redação dissertativa argumentativa, MODELO ENEM usando o filme AmarElo – É tudo pra ontem (2020), de Emicida:

Ao longo da história, a sociedade brasileira foi construída sobre bases que invisibilizaram e marginalizaram a população negra, relegando-a a papéis sociais desiguais. Essa exclusão, fruto do passado escravocrata e da falta de reparação adequada, ainda hoje se reflete em diversas áreas da vida social, como o acesso à educação, ao mercado de trabalho e à representatividade cultural. Nesse contexto, o racismo, sobretudo em sua forma estrutural, apresenta consequências severas não apenas no desenvolvimento coletivo, mas também na dignidade e na saúde mental da população atingida. Assim, é necessário compreender que combater o racismo estrutural demanda tanto o reconhecimento histórico de suas raízes quanto a implementação de medidas efetivas de inclusão.
Primeiramente, é imprescindível destacar que o racismo estrutural limita oportunidades de ascensão social e reforça desigualdades históricas. Nesse viés, o antropólogo Kabengele Munanga explica que esse fenômeno vai além de atitudes individuais, pois está enraizado nas instituições e práticas que organizam a vida social, perpetuando a exclusão da população negra. Observa-se, por exemplo, esse processo, no mercado de trabalho, em que pessoas negras ocupam, majoritariamente, cargos de baixa remuneração, reflexo direto de um sistema que nega igualdade de oportunidades. Nesse sentido, o reconhecimento desse tipo de racismo é essencial para desconstruir as engrenagens sociais que sustentam a desigualdade.

Além disso, a valorização da cultura e da memória negra constitui ferramenta fundamental no enfrentamento ao racismo. Assim, o documentário AmarElo – É tudo pra ontem (2020), dirigido pelo rapper Emicida, apresenta como a música e a arte são instrumentos de resistência e de valorização da identidade negra no Brasil. De fato, ao resgatar movimentos históricos e culturais, a obra evidencia que o combate ao racismo também passa pela reafirmação do protagonismo da população negra na formação da identidade nacional. Dessa maneira, promover o reconhecimento e a difusão da cultura afro-brasileira contribui para a construção de uma sociedade mais justa e consciente de sua diversidade.

Em síntese, o racismo estrutural representa um obstáculo à igualdade e ao pleno desenvolvimento social, pois perpetua desigualdades e mina a autoestima da população negra. Para lutar contra isso, é necessário que o Estado, em parceria com instituições de ensino e organizações da sociedade civil, promova políticas educacionais e culturais inclusivas, por meio da ampliação de projetos que valorizem a cultura afro-brasileira e da implementação de programas obrigatórios de conscientização sobre racismo estrutural nas escolas, a fim de formar cidadãos mais críticos e engajados na luta contra a desigualdade. Somente assim será possível transformar a estrutura social e garantir dignidade a todos os brasileiros.

O cinema brasileiro é uma poderosa ferramenta de repertório para a redação. Filmes como Que horas ela volta?, AmarElo e Pixote não apenas ilustram realidades sociais, mas também dialogam com conceitos de grandes pensadores, ampliando a profundidade da argumentação.

Ao utilizá-los de forma crítica, o estudante mostra domínio cultural e capacidade de relacionar diferentes áreas do conhecimento, exatamente o que os examinadores esperam.

Se você quer aprender a usar repertórios como esses e escrever redações que se destacam, inscreva-se no Curso de Redação Fuvest 2026 da professora Crís Oliveira e conquiste a sua nota máxima!

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