Na redação dos principais vestibulares, saber usar repertórios de forma inteligente e estratégica é o que diferencia um bom texto de um texto nota máxima.
Mas atenção: não basta citar nomes ou obras famosas, é preciso inserir o repertório no argumento, mostrando que você compreende o tema e sabe aplicá-lo no contexto social atual.
Neste guia, você encontra 7 eixos temáticos contemporâneos com repertórios conceituais, culturais e fatuais, todos atualizados para 2025.
E o melhor: em cada eixo, você vai entender como usar esses repertórios na redação para fortalecer sua tese e desenvolver argumentos com profundidade.
Geração Z e mercado de trabalho: quem deve se adaptar a quem?
Autores e ideias-chave:
- Zygmunt Bauman (“Modernidade Líquida”): o trabalho tornou-se fluido e inseguro, exigindo constante reinvenção.
- Byung-Chul Han (“Sociedade do Cansaço”): o sujeito moderno explora a si mesmo em busca de performance, o que gera burnout.
- Richard Sennett (“A Corrosão do Caráter”): o novo capitalismo destrói vínculos e compromissos duradouros.
Culturais:
- Black Mirror: episódios como Nosedive refletem a busca por validação e o controle corporativo da imagem.
- O Diabo Veste Prada: a cultura da exigência e o conflito entre valores pessoais e produtivismo.
- A música Geração Z, de Baco Exu do Blues, crítica à pressão por sucesso e reconhecimento digital.
Dados atuais:
- Pesquisa CIEE (2024): 47% dos jovens da Geração Z afirmam priorizar equilíbrio emocional sobre salário.
- LinkedIn (2024): 67% das empresas relatam dificuldade em reter jovens talentos devido a valores divergentes.
Como usar na redação: use esse repertório para discutir valores profissionais da nova geração, choque entre empresas tradicionais e juventude digital ou crises de identidade no trabalho contemporâneo. Relacione Bauman e Han para mostrar que o mercado atual cobra flexibilidade, mas gera ansiedade e instabilidade emocional.
Turismo na Amazônia: entre desenvolvimento e impactos ambientais
Autores e ideias-chave:
- Hans Jonas, em “O Princípio Responsabilidade”: defende que o desenvolvimento deve considerar as gerações futuras.
- Milton Santos: critica o “uso desigual do território” que privilegia elites econômicas.
- Celso Furtado, em “Formação Econômica do Brasil”: alerta para o “desenvolvimento dependente” e extrativista.
Culturais:
- Filme “Amazônia Sociedade Anônima (2020)”: denuncia o avanço do agronegócio e do turismo predatório sobre territórios indígenas.
- Livro “A Queda do Céu, de Davi Kopenawa”: visão cosmológica yanomami sobre destruição e espiritualidade da floresta.
- Série documental “Amazônia, o Despertar da Floresta” da (GloboPlay, 2024): reflete e discute a questão ambiental na floresta amazônica.
Dados atuais:
- IBGE (2024): o turismo ecológico na região Norte cresceu 38% em 5 anos.
- Relatório IPCC (2023): aponta que o desmatamento já alterou 18% da cobertura florestal amazônica.
- Debate atual: projeto de turismo sustentável em Alter do Chão (PA) com gestão comunitária.
Como usar na redação: aplique esse repertório em temas sobre sustentabilidade, desigualdade regional e exploração ambiental. Citar Jonas ou Kopenawa mostra consciência ética e respeito à pluralidade cultural, valores valorizados pelas bancas.
Monitoramento de adolescentes na internet: segurança ou privacidade?
Autores e ideias-chave:
- Michel Foucault, em “Vigiar e Punir”: analisa a vigilância como forma de controle social.
- Shoshana Zuboff, em “A Era do Capitalismo de Vigilância”: as empresas exploram dados como forma de poder.
- Hannah Arendt: defende a importância da formação da autonomia no processo de amadurecimento.
Culturais:
- Filme “O Dilema das Redes (Netflix, 2020)”: alerta para manipulação algorítmica e coleta de dados pessoais.
- Livro juvenil: “Extraordinário”, de R. J. Palacio: aborda empatia e confiança na educação de jovens.
- Série: “Euphoria” (HBO): revela as tensões entre liberdade, redes sociais e privacidade adolescente.
Dados recentes:
- Pesquisa TIC Kids Online (2023): 82% dos pais monitoram a navegação dos filhos; 41% dos adolescentes afirmam sentir-se “vigiados”.
- Lei 14.811/2024: endurece punições para crimes digitais contra menores (pornografia, aliciamento, vazamento de dados).
Como usar na redação: ideal para temas de ética digital, autonomia juvenil ou segurança na rede. Construa seu argumento ponderando entre proteção e liberdade, mostrando que o excesso de vigilância pode gerar desconfiança e limitar o amadurecimento.
Combate à desinformação: o desafio da verdade na era digital
Autores e ideias-chave:
- Umberto Eco, “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis.”
- Pierre Lévy, em “Cibercultura”: o conhecimento em rede precisa ser colaborativo e ético.
- Hannah Arendt, em “Verdade e Política”: alerta sobre a manipulação da verdade como arma política.
Culturais:
- Filme “Não Olhe para Cima (Netflix)”: metáfora da pós-verdade e do negacionismo científico.
- Série “Years and Years (BBC)”: mostra como o populismo e a desinformação corroem democracias.
- Documentário “Fake Famous (HBO)”: sobre influenciadores e a fabricação de reputações falsas.
Dados atuais:
- ONU (2024): 60% da população global já acreditou em fake news.
- Projeto Comprova (Brasil, 2024): detectou aumento de 300% em desinformação política durante eleições municipais.
- Marco Legal das Fake News (PL 2630/2023) ainda em tramitação no Congresso.
Como usar na redação: esse repertório serve para discutir ética da informação, polarização política e responsabilidade das plataformas. Ao usar Arendt, mostre que a verdade é essencial para o convívio democrático e que a desinformação ameaça a própria cidadania.
A criação de pessoas por inteligência artificial: inovação ou ameaça?
Autores e ideias-chave:
- Jean Baudrillard, em “Simulacros e Simulação”: o real é substituído por representações artificiais.
- Yuval Noah Harari, em “Homo Deus”: discute a criação de entidades digitais com consciência simulada.
- Byung-Chul Han, em “Psicopolítica”: a IA é extensão do controle emocional e social.
Culturais:
- Filme “Her” (2013): relação afetiva entre homem e IA, questionando limites da humanidade.
- Série “Black Mirror”, episódio “Rachel, Jack and Ashley Too”: identidade digital e simulação de consciência.
- Livro “Frankenstein”, de Mary Shelley: metáfora clássica da criação que ultrapassa o criador.
Dados atuais:
- OpenAI (2025): IAs com criação de “personas” (vozes, rostos, perfis) levantam debate ético sobre consentimento e direitos autorais.
- ONU (2024): discute a regulação global da IA generativa para evitar manipulação de opinião pública.
Como usar na redação: perfeito para temas de ética tecnológica, identidade digital e limites da automação. Use Baudrillard para discutir a “simulação da humanidade” e relacione com os impactos sociais da IA sobre empregos e relações afetivas.
As redes sociais e o hábito da leitura — vilãs ou aliadas?
Autores e ideias-chave:
- Pierre Bourdieu: o capital cultural forma o gosto e o acesso à leitura.
- Neil Postman, em “Divertir-se até Morrer”: alerta que o entretenimento substitui a reflexão crítica.
- Roger Chartier, em “A Ordem dos Livros”: o suporte (digital ou impresso) transforma a experiência leitora.
Culturais:
- Série “Emily in Paris”: ilustra a superficialidade digital e o consumo rápido de conteúdo.
- Livro “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zusak: leitura como resistência e humanidade.
- Filme “A Sociedade dos Poetas Mortos”: a leitura como libertação do pensamento.
Dados atuais:
- Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024): 44% dos jovens afirmam ler mais em posts e threads do que em livros completos.
- Fenômeno BookTok: aumento de 25% na venda de clássicos em 2023, exemplo de que as redes também podem incentivar leitura.
Como usar na redação: ótimo para discutir educação, leitura crítica e cultura digital. Conecte Bourdieu e Postman para mostrar como o excesso de estímulos digitais pode enfraquecer a concentração, mas também abrir novas formas de engajamento.
Agricultura familiar: entre produção e acesso aos alimentos
Autores e ideias-chave:
- Amartya Sen, em “Desenvolvimento como Liberdade”: a fome decorre da falta de acesso, não da falta de produção.
- Josué de Castro, em “Geografia da Fome”: a fome é um problema político e estrutural.
- Milton Santos: defende o papel do território e da produção local na justiça social.
Culturais:
- Filme “O Veneno Está na Mesa” (Silvio Tendler, 2011): crítica ao agronegócio e aos agrotóxicos.
- Livro “Vidas Secas, de Graciliano Ramos”: retrata a seca e a exclusão rural.
- Série documental: Rotas do Agro Familiar (Canal Futura, 2023).
Dados atuais:
- FAO (2024): 70% dos alimentos consumidos no Brasil vêm da agricultura familiar.
- Programa PAA (Alimentação Escolar, 2023) — reativado para compra de produtos de pequenos produtores.
- IBGE (2024): 4,3 milhões de famílias vivem da agricultura familiar; 38% em situação de vulnerabilidade econômica.
Como usar na redação: essencial em temas sobre sustentabilidade, segurança alimentar e políticas públicas. Mencione Sen ou Castro para argumentar que o combate à fome exige justiça social e valorização da produção local.
Como escolher e usar repertórios na sua redação?
Para usar bem um repertório, siga três passos simples:
- Conecte-o diretamente à tese? o repertório deve reforçar seu ponto de vista, não parecer um enfeite.
- Explique o vínculo com o tema: mostre como o exemplo ajuda a compreender o problema proposto.
- Evite acúmulo: um ou dois repertórios bem explorados valem mais que cinco citações superficiais.
O principal: repertório é mais do que citação, é argumento com propósito!
Quando você usa referências atuais, legítimas e conectadas ao tema, demonstra ao corretor que é um candidato crítico, informado e autoral, exatamente o perfil que as bancas mais valorizam.
Cuidado com o uso de senso comum e juízo de valor na redação! Isso pode te fazer perder pontos preciosos. Entenda como usá-los com sabedoria ~>
SENSO COMUM e JUÍZO DE VALOR na Redação | com Crís Oliveira


